As mudanças climáticas estão a provocar o aumento dos incêndios florestais?

No continente europeu, cerca de 80% do total da área ardida anualmente é registada nos países da zona mediterrânica, sendo Portugal o mais afetado pelos incêndios (140 mil hectares/ano, entre 2009 e 2018).

A ameaça dos incêndios florestais tornou-se uma emergência social, ambiental e económica, e exige uma nova abordagem na defesa contra o fogo.

À medida que os incêndios florestais vão ocorrendo por todo o país, com as consequências drásticas a que assistimos diariamente, é inevitável fazermos a pergunta: será este o novo normal?

Os especialistas em mudanças climáticas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) afirmam que, um planeta em rápido aquecimento, provavelmente levará a mais incêndios, como os que têm devastado vários países ao longo dos últimos anos. Portugal não é exceção, e ainda está na nossa memória recente, os incêndios devastadores dos últimos 5 anos.

OS factos não enganam: o planeta está 1,1°C mais quente do que nos tempos pré-industriais e esse aumento está a provocar várias mudanças ao nosso redor.

O aumento da temperatura média, o aumento na evaporação e a ocorrência de períodos de seca mais frequentes e prolongados, provocam mais incêndios e com consequências mais desastrosas. Estes fatores, influenciados por atividades antropogénicas, danosas ou negligentes, têm devastado as nossas florestas ao longo dos últimos anos.

Adicionalmente, e conjugando estes fatores com o crescente abandono da floresta, a escassa e deficiente gestão destes espaços, a ausência de um planeamento e ordenamento eficazes, contribuímos para a depleção destas áreas, para a diminuição da sua produtividade e para o seu declínio económico, pelo menos, no curto prazo.

Mas podem estes fatores levar a uma ação séria no que diz respeito às mudanças climáticas? Queremos acreditar que sim!

Estudos recentes afirmam que a restauração florestal e outras soluções naturais podem desencadear até um terço da mitigação necessária para manter o aquecimento global abaixo de 2°C. “Qualquer ação que combata as mudanças climáticas, incluindo restaurar e aumentar o stock de carbono nas florestas, promove a diminuição do risco de incêndios florestais extremos”, tal como afirma Tim Christophersen, chefe da Unidade Natureza pelo Clima do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Torna-se então evidente que, mais do que nos centrarmos nas respostas de combate aos incêndios, temos de agir a montante, implementando estratégias que diminuam a probabilidade destes ocorrerem ou se propagarem de forma descontrolada. Estas estratégias assentam numa Gestão Florestal Sustentável que resulta, não apenas em benefícios económicos, mas, em especial, na proteção e no equilíbrio destes ecossistemas.

A título resumido, deixamos algumas das ações que devem ser consideradas nas estratégias de gestão das áreas florestais:

  • Melhoria dos Recursos Florestais

A implementação de planos de gestão eficazes garantem a manutenção da floresta, tornando-a num recurso renovável e permanente. Práticas silvícolas adequadas permitem manter o equilíbrio da floresta enquanto promovem a obtenção de produtos rentáveis, contribuindo para os benefícios económicos e sociais das comunidades envolvidas.

  • Gestão dos Ecossistemas Florestais

A gestão ­florestal sustentável, ao promover o aproveitamento correto dos recursos, e a sua condução ativa e responsável, reforça o vínculo comunidade-fl­oresta, reduzindo a vulnerabilidade e o risco de incêndios florestais.

  • Melhoria das Funções Produtivas da Floresta

Ao longo dos anos, temos assistido no nosso país a uma diminuição da área florestal e à redução da sua produtividade, tornando estas áreas vulneráreis a um maior risco de incêndio. Ações de redução da carga de combustível, como o controlo de matos, e ações de limpeza, reduzem o risco de propagação de incêndios e diminuem a área de propagação dos mesmos.

  • Melhoria das Funções Protetoras da Floresta

Através da adoção de medidas que atuem, quer a nível da gestão e condução dos povoamentos já instalados, quer da plantação de novas áreas florestais, privilegiando espécies autóctones e adaptadas ao nosso país, com maior resistência ao fogo, que desempenhem funções de proteção, e que concorram adicionalmente para a diminuição dos riscos de inundação, desertificação e erosão destas áreas.

  • Promoção da Biodiversidade

Através da implementação de medidas de proteção nas áreas florestais é possível conservar e promover a diversidade biológica destes ecossistemas.

  • Promoção e Melhoria das Condições Económicas e Sociais

A gestão florestal responsável traz benefícios económicos (maior produtividade), sociais (desenvolvimento rural) e ambientais (potenciando a recuperação de áreas de valor para a conservação e minimizando impactos).

 

Pode saber mais sobre a Certificação Florestal, em https://fsc.org/en e https://www.pefc.org/

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